Hell Clock: roguelite brasileiro desafia tempo, história e habilidades do jogador

Hell Clock se destaca como uma das surpresas mais singulares do cenário de roguelites e ARPGs recentes, fundindo um universo original, estrutura desafiadora e mecânicas inovadoras em torno do conceito do tempo. Concebido pelo estúdio brasileiro Rogue Snail, o jogo entrega não apenas uma ode à história nacional, mas uma experiência que tensiona decisões a cada segundo. A seguir, uma análise aprofundada, com explanação detalhada dos pontos fortes e problemáticos que moldam a jornada.

Pajeú e o Relógio do Inferno

O sertão arde. O sol queima a terra e o sangue que nela escorre. Canudos, a cidade de barro e fé, jaz em ruínas. Foi ali que homens e mulheres, pobres, ex-escravizados, retirantes, resistiram ao peso do mundo — e ao peso do Estado. Foi ali que Antônio Conselheiro pregou esperança e construiu uma comunidade livre, até que o exército da jovem República decidiu apagá-la do mapa.

Quando a última bala silenciou a última voz, quando a fumaça se misturou às preces e às chamas, algo se partiu no tempo. É desse ponto que Hell Clock começa: no instante em que a história termina. Pajeú, desperta não no sertão, mas no inferno — um purgatório feito de poeira, ossos e demônios.

Cada inimigo que enfrenta não é apenas um monstro, mas um fragmento da memória. Eles são os gritos dos mortos, os soldados que marcharam, a fome que consumiu o povo, os preconceitos que chamaram aquele povo de bárbaro e fanático. O relógio que rege esse inferno gira sem parar, repetindo o ciclo de dor e luta — e a cada volta, Pajeú desce de novo, mais forte, mais marcado, mais perto de libertar a alma de Conselheiro.

Hellclock

Ambientação para um universo brutal

Um dos aspectos mais notáveis de Hell Clock é, sem dúvida, sua narrativa, que utiliza a Guerra de Canudos (1896-1987) como pano de fundo. A história acompanha o trágico Pajeú, na busca de recuperar a alma de seu mentor, enquanto a morte ronda cada decisão e fracasso tem consequências palpáveis. No entanto, a escolha de usar um momento histórico real é mais do que mero gatilho narrativo: insere camadas de esperança, luta e, surpreendentemente, otimismo, mesmo com a densidade temática do inferno literal e metafórico ao qual Pajeú retorna incessantemente.

Essa abordagem histórica se soma a um tom visual bastante expressivo. A arte de traços vibrantes e detalhes grotescos, mergulha o jogador num pesadelo inacabável, potencializado por uma trilha sonora que alterna entre o sombrio e o épico, criando coesão para um jogo de ação frenética. A dublagem é um ponto forte e potencializa o drama; personagens quebrados, vozes marcadas por sofrimento, encaixam-se ao contexto de guerra e resistência.

É preciso pontuar, porém, que a narrativa perde o foco em meio a ação, como é esperado. A velocidade exigida pelo relógio de Hell Clock pode fazer com que trechos da história acabem sendo rapidamente esquecidas ou ignoradas. Há quem perceba Pajeú como enigmático demais, quase impenetrável, o que pode gerar distanciamento emocional — principalmente após maratonas de sessões onde a progressão se sobrepõe à narrativa.

Em contrapartida, cutscenes, diálogos e frases de determinados personagens são capazes de apontar para um momento histórico trágico e sem esperança; a escolha de ambientar Hell Clock em uma espécie de purgatório, inferno, com um período de guerra e massacre é acertado para passar sua mensagem.

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Além do relógio

O centro gravitacional de Hell Clock é seu sistema de tempo, que limita cada run a poucos minutos— embora a possibilidade de expandir o limite —; tal escolha resulta numa tensão constante, favorecendo estratégias rápidas e experimentais. Inicialmente, essa mecânica pode soar restritiva, mas logo mostra seu valor: acelera o ciclo de tentativa e erro, incentiva experimentação de builds e cria um senso permanente de urgência. O relógio para apenas em chefes e eventos especiais, demandando decisões cruciais sobre qual caminho tomar, qual recurso arriscar, ou se vale a pena explorar.

Cada morte serve como plataforma para novos upgrades. Coletando Soulstones, o jogador pode investir na evolução permanente de Pajeú, seja ampliando o tempo disponível, desbloqueando portais que pulam andares, ou liberando novas habilidades. As relíquias, equipáveis conforme o espaço no inventário, surgem com bônus e poderes variados — algumas transformadoras de gameplay, outras triviais. Embora o sistema de builds permita alguma variação, o meta acaba favorecendo poucos estilos realmente eficientes, algo notado sobretudo em runs avançadas e modos de maior dificuldade.

O jogo oferece alternativas que expandem a acessibilidade. Há modos Relax, que aliviam a pressão do relógio, e modo Hardcore, onde morrer apaga todo o progresso, elevando o nível de desafio. Servem para adaptar a experiência tanto para iniciantes quanto para aqueles em busca de desafio extremo — um acerto notável no design, embora a variedade de caminhos ainda dependa do equilíbrio das relíquias disponíveis nas runs.

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Estrutura, Conteúdo e Repetição

A estrutura de Hell Clock é desenhada para partidas rápidas, mas não superficiais. O jogo conta com três atos principais, cada um com biomas, inimigos e chefes distintos — o suficiente para evitar o desgaste inicial, embora o repeteco das runs seja inevitável a médio e longo prazo. A geração procedural dos mapas, como acontece em boa parte dos roguelites, entrega resultados mistos: cenários com boa atmosfera, mas layouts repetitivos após algumas horas, o que pode cansar quem busca inovação constante na arquitetura dos níveis.

A base central, ou hub, evolui junto com o progresso do jogador. Este espaço não serve apenas como área de descanso, mas como ponto de personalização — novos equipamentos, aumento de slots de relíquias e o desbloqueio de perks via constelações tornam cada retorno ao hub recompensador, diminuindo a frustração das derrotas sequenciais. Essa sensação de avanço persistente é reforçada pelo sistema de memória, que permite redistribuir pontos e experimentar novas abordagens a cada ciclo.

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No conteúdo pós-campanha, Hell Clock aposta em uma variedade respeitável: modos ascendentes (ascension) mudam as regras, dificultam runs e alimentam o ciclo para veteranos, enquanto eventos e side-quests fornecem camada extra à aventura. A presença de modos Hardcore e Relax reforça a longevidade. No entanto, a ausência de variedade substancial nos layouts e o design procedural pouco inspirado prejudicam o engajamento de longo prazo.

Performance, Técnica e Polimento

Apesar do design artístico bem resolvido, Hell Clock apresenta problemas técnicos que não podem ser ignorados. A performance em PCs modestos e principalmente no Steam Deck é inconsistente: quedas de FPS são comuns, especialmente nos atos finais e em cenas com muitos inimigos simultâneos. Bugs pontuais, como missões presas e problemas de colisão em chefes, também aparecem, embora não sejam impeditivos para a experiência geral. O suporte a controles é vasto e funciona bem, um ponto positivo para a acessibilidade.

O jogo impressiona em iluminação e clima, com cenas visualmente poderosas que compensam limitações na modelagem de cenários. Entretanto, a ausência de recursos básicos como escalonamento de fonte pode atrapalhar a leitura em portáteis. A trilha é competente e o mix de sons cria tensão, mesmo em momentos onde o gameplay repete padrões. A equipe responsável promete atualizações frequentes — especialmente no campo de otimização e balanceamento –, atenuando parte da preocupação técnica para o futuro.

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Embora seu conjunto técnico não prejudique severamente o valor do jogo, é importante ressaltar que a experiência ideal só acontece em máquinas mais potentes, ou para jogadores tolerantes a soluços ocasionais. Bugs de missões inacabadas e freezes em situações de combate intenso podem gerar frustração, mas dificilmente comprometem o todo para os obstinados pelo loop de run-and-upgrade.

 

Um dos melhores títulos nacionais

Hell Clock consolida-se como uma experiência intensa, desafiante e inovadora para quem aprecia roguelites e ARPGs, sobretudo aqueles abertos a experimentação, contexto histórico e desafios que vão além do mero grind. Embora a performance inconstante, o procedural repetitivo e a limitação nas builds sejam pedras no sapato, a criatividade do design, a força da ambientação e a estrutura de progresso recompensador tornam o jogo uma adição distinta e memorável ao gênero.

 

Texto por: Fernando Paixão Rosa

Gamescom Latam divulga programação com ícones da indústria, dubladores e torneios inclusivos

A edição de 2025 da gamescom latam promete movimentar São Paulo entre os dias 1º e 4 de maio, no Distrito Anhembi, com uma programação intensa e plural voltada aos apaixonados por jogos eletrônicos. O evento contará com mais de 250 horas de atrações, incluindo palestras com nomes influentes da indústria, painéis sobre dublagem, campeonatos e atividades voltadas à inclusão, somando mais de 800 convidados.

Entre os destaques da programação está a presença de Shuhei Yoshida, ex-presidente da PlayStation Worldwide Studios e atual incentivador de jogos independentes, que receberá o prêmio Lifetime Achievement e ministrará uma palestra sobre sua trajetória na indústria. Outro nome de peso é Henk Rogers, responsável pela popularização do clássico Tetris, que falará sobre os bastidores do jogo e seu envolvimento com projetos de energia limpa.

O universo da dublagem também terá espaço especial no evento. Painéis como “Versão Brasileira gamescom” trarão dubladores consagrados, como Marco Ribeiro, Manolo Rey, Raphael Rossatto e Sérgio Cantú, para conversar com o público e demonstrar ao vivo cenas marcantes de games, animações e filmes. As atividades abordarão desde os desafios da profissão até a evolução da dublagem no Brasil.

No sábado, o campeonato mundial Pro Kompetition de Mortal Kombat 1 terá uma de suas etapas classificatórias realizadas durante o evento, reunindo jogadores profissionais em busca de pontos rumo ao “Final Kombat”, a grande final da franquia. O mesmo dia também marca a vinda inédita ao Brasil de Michael Steranka, Diretor Sênior de Pokémon GO, que discutirá os desafios de manter um jogo vivo por gerações.

Fechando a programação no domingo, o evento receberá a Copa PcD, idealizada por Gabriel “Machadinho” e Jéssyka “Suuhgetsu”, que reforça a representatividade dos jogadores com deficiência no cenário competitivo. A Great Team Brazil, com apoio da Claro, também marca presença com partidas amistosas e distribuição de brindes, incluindo itens autografados por Ronaldinho Gaúcho.

A programação completa está disponível no site oficial da gamescom latam.

SteamDolls chega ao Acesso Antecipado no Steam com ação brutal e furtividade

O jogo “SteamDolls”, desenvolvido pelo estúdio franco-belga The Shady Gentleman, chega ao Acesso Antecipado do Steam nesta segunda-feira (11), a partir das 15h (horário de Brasília). O título, que mescla ação e furtividade em um universo steampunk inspirado em quadrinhos, conta com dublagem de David Hayter, conhecido por dar voz a Solid Snake na franquia “Metal Gear Solid”. O jogo está disponível por R$ 99,90 (ou equivalente regional) e tem um desconto de 15% nas duas primeiras semanas.

No controle de Whisper, um personagem sanguinário e sarcástico, os jogadores devem equilibrar ataques brutais com estratégias furtivas para sobreviver em uma cidade caótica à beira da anarquia. A versão em Acesso Antecipado inclui seis capítulos, com uma estimativa de 5 a 7 horas de conteúdo. O jogo pode ser jogado em inglês, francês, alemão, italiano e espanhol. Uma demonstração gratuita também está disponível na plataforma.

O projeto, que teve sua primeira exibição pública em 2019 e passou por uma bem-sucedida campanha de financiamento coletivo, conta com um elenco de dubladores renomados, incluindo Christopher Randolph e Jennifer Hale, além de Hayter. O estúdio pretende usar o período de Acesso Antecipado para coletar feedback da comunidade e aprimorar mecânicas, equilíbrio e novos conteúdos antes do lançamento oficial.

Com um estilo visual que combina elementos 2D e 3D, “SteamDolls” oferece um mundo vasto e sombrio para explorar, repleto de zonas únicas, como uma capela abandonada e tomada pela vegetação, um subterrâneo infernal, um bunker industrial eletrificado e uma cidade infectada por criaturas insetoides. Além do combate intenso e furtividade, o jogo traz um sistema de personalização da base do protagonista, onde itens coletados podem ser utilizados para desbloquear melhorias e descobrir mais sobre a história do universo do jogo.

“SteamDolls” promete uma experiência diferenciada ao misturar plataforma, ação e furtividade com uma narrativa envolvente. Os interessados podem conferir o trailer de lançamento e experimentar a demo disponível no Steam.

Abaixo tem o trailer de SteamBolls: