Hell Clock – Guerra de Canudos inspira RPG sombrio criado por estúdio brasiliense

A tragédia da Guerra de Canudos (1896-1897), um dos episódios mais impactantes da história brasileira, serviu de base para um inusitado lançamento da indústria nacional de games. O estúdio Rogue Snail, sediado no Distrito Federal, prepara o lançamento de Hell Clock, um RPG de ação com elementos de roguelike que mergulha em uma interpretação sombria e simbólica do conflito liderado por Antônio Conselheiro.

O jogo, com lançamento marcado para 22 de julho exclusivamente no PC via Steam, coloca o jogador no papel de Pajeú, um ex-escravizado que luta para resgatar a alma de seu mentor, atravessando um purgatório repleto de dores históricas e fantasmas do passado. Inspirado diretamente nos horrores vividos pelos habitantes de Canudos, Hell Clock mistura combate intenso, poderes sobrenaturais e uma narrativa carregada de crítica social, memória coletiva e justiça histórica.

Hell Clock

Com consultoria do historiador Swami Abdalla-Santos, o projeto busca respeitar o contexto histórico mesmo ao adotar uma estética fantástica. A autenticidade também é reforçada pela dublagem em português com sotaque nordestino, incluindo a participação do ator Dody Só, que retoma o personagem Pajeú após interpretá-lo no filme Guerra de Canudos (1997).

Reconhecido em eventos como o BIG Festival e a Gamescom LATAM 2025, Hell Clock ganhou projeção internacional antes mesmo do lançamento. Após o anúncio do título, em dezembro de 2024, o interesse por termos como “Canudos” e “Antônio Conselheiro” cresceu 600% no Google. Atualmente, o game acumula mais de 130 mil usuários na lista de desejos da Steam, com 96% de aprovação na versão demo.

Além de Hell Clock, a Rogue Snail também lançará em 14 de agosto Relic Hunters Legend, sequência do sucesso indie Relic Hunters Zero, com foco em combates dinâmicos e uma trama de ficção científica bem-humorada. Para mais informação, acesse a página do game na Steam.

Gamescom Latam responde a carta aberta de desenvolvedores e rebate críticas sobre apoio à cena independente

Após a repercussão da carta aberta publicada por desenvolvedores brasileiros com críticas à organização da Gamescom Latam 2025 — e da matéria publicada pelo GameReporter ontem — a organização do evento nos enviou uma nota oficial em resposta às reivindicações.

No comunicado, a Gamescom Latam afirma que algumas informações presentes na carta “podem gerar desinformação” e defende seu histórico de apoio à indústria de jogos independentes no Brasil. A organização cita ações como o Panorama Brasil e o BIG Festival, que, segundo eles, oferecem estrutura gratuita, apoio logístico e acesso à área de negócios para estúdios selecionados.

A nota também contesta dados sobre o financiamento público do evento. De acordo com os organizadores, o valor repassado pela Prefeitura de São Paulo foi de R$1 milhão — e não R$22 milhões, como citado no documento dos desenvolvedores. O montante maior, segundo a resposta, refere-se ao custo total de produção do evento. A carta aberta assinada por desenvolvedores pode ser lida na íntegra aqui.

Confira a resposta na íntegra abaixo:

GAMESCOM LATAM 2025 | RETORNO À CARTA ABERTA DOS DEVS

A organização da gamescom latam confirma que recebeu o documento. Entretanto, é preciso esclarecer que algumas das informações divulgadas podem gerar desinformação:

Desde o início do projeto BIG Festival, a organização e os profissionais envolvidos no evento sempre se comprometeram com o desenvolvimento da indústria independente de jogos no Brasil. Como indicativo, podemos observar o crescimento exponencial desta indústria nos últimos anos; crescimento este que teve participação ativa e constante do evento, que trabalhou incansavelmente para trazer profissionais da indústria ao nosso país e apresentar a região para grandes players globais do mercado de jogos.

A área proprietária Panorama Brasil é mais um exemplo destes esforços; trata-se de uma política ampla e consistente de apoio aos independentes, especialmente brasileiros, algo que não acontece em outros eventos de grande porte, que fazem apenas convites pontuais para alguns profissionais. Em 2025, o Panorama Brasil, somado ao BIG Festival, ofereceu espaço para 129 jogos, 59 brasileiros e 70 internacionais.

Ambas as iniciativas são gratuitas para os jogos selecionados e incluem:

– Doação de espaço no evento,

– Fornecimento gratuito de estrutura e mobiliário (no caso do BIG Festival, também computadores e TVs),

– Suporte de staffs do evento, 

– Credenciais de acesso ao evento, 

– Acesso à área de negócios, 

– Apoio financeiro aos participantes de fora de São Paulo, entre diversos outros apoios.

A participação é voluntária e opcional, mediante o aceite das regras, que são divulgadas com antecedência, esclarecidas em período anterior ao aceite da proposta.

No Panorama Brasil, especificamente, há opções de contratações de serviços adicionais, totalmente opcionais. Neste ano, contudo, implementamos uma regra mais clara sobre a ocupação das estações, a fim de evitar que elas ficassem vazias, como aconteceu na última edição do evento, visando a otimização da experiência dos visitantes – e também dos desenvolvedores, que têm uma chance real de mostrar o jogo não só para o público, mas também para publishers, jornalistas e outros desenvolvedores. Porém, novamente, destacamos que todas estas regras são especificadas aos participantes antes do aceite da proposta, para que possam se planejar de acordo com sua disponibilidade e necessidades.

É essencial lembrar também que, ao longo dos seus 5 dias, a gamescom latam gerou um impacto econômico de mais de R$20 milhões para a Cidade de São Paulo, além de várias centenas de milhões de reais em negócios para as empresas participantes, principalmente para os desenvolvedores independentes que participam do evento.

Em relação às informações que foram divulgadas de forma errônea, esclarecemos que o apoio financeiro da Prefeitura de São Paulo ao evento foi de R$1 milhão, como já divulgado publicamente. O valor de R$22 milhões mencionado na carta se refere ao orçamento total de produção do evento, estimado em janeiro de 2025, valor este dedicado à produção, conteúdos, comunicação, locação do espaço, contratação de equipes, credenciamento e demais ações.

A equipe da gamescom latam está sempre atenta aos retornos da comunidade e permanece aberta ao diálogo com aqueles que quiserem trabalhar pelo desenvolvimento da indústria de games no Brasil e da América Latina, que sempre foi e permanece sendo o principal compromisso do evento.

O GameReporter segue acompanhando os desdobramentos do caso e reforça que permanece à disposição para ouvir novas manifestações de estúdios, participantes e organizadores do evento, com o compromisso de oferecer espaço ao diálogo e contribuir para o fortalecimento da cena de desenvolvimento de jogos no Brasil.

Desenvolvedores brasileiros de jogos denunciam condições na Gamescom Latam e exigem melhorias

Um movimento coletivo de desenvolvedores de jogos no Brasil levantou a voz contra as condições oferecidas pela Gamescom Latam, um dos maiores eventos de games do mundo, em uma carta aberta que pede “mais valorização para os jogos e criadores independentes brasileiros”. O documento, que já conta com mais de 200 assinaturas de nomes proeminentes da indústria, expõe uma série de críticas e sugere melhorias urgentes.

A controvérsia ganhou destaque com o relato da desenvolvedora Tiani Pixel, do Studio Pixel Punk (Unsighted e Abyss x Zero). Tiani revelou que foi convidada para palestrar no evento sem qualquer auxílio de custo para transporte, apesar de residir na região metropolitana de São Paulo. Sua desistência da palestra e a subsequente exposição nas redes sociais (que gerou até mesmo ataques coordenados por contas recém-criadas) impulsionaram outros desenvolvedores a compartilhar experiências semelhantes, revelando um panorama de descaso com os talentos nacionais.

As Demandas por um Evento Mais Justo

A carta, elaborada pelo Coletivo Game Devs Unidos (GDU), detalha as exigências dos desenvolvedores. Entre as principais reivindicações estão:

        • Ajuda de custo para transporte e alimentação dos expositores e palestrantes.
        • Remuneração para os palestrantes, que dedicam seu tempo e expertise.
        • Disponibilização de salas de descanso para os desenvolvedores, que chegam a trabalhar 12 horas por dia, de 09h às 21h, durante os cinco dias de evento.
        • Maior segurança no pavilhão, após relatos de furtos, como um tablet roubado de um desenvolvedor no Panorama Brasil.
        • Itens básicos como armários gratuitos para guardar equipamentos e a abolição de multas para quem precisar se ausentar brevemente de seu estande.

 

O documento sublinha a importância do Panorama Brasil, espaço dedicado aos jogos independentes, que é frequentemente apontado como a principal atração para o público. A carta enfatiza que “o Brasil vem se mostrando cada vez mais um polo de jogos independentes incríveis, reconhecidos em todo mundo”, e que o incentivo a esses criadores é benéfico para o próprio evento e seu público.

Contradições e Comparativos

A carta não se limita a apresentar problemas, mas também refuta argumentos que circulam para desmobilizar as sugestões dos desenvolvedores. Um dos pontos centrais é o financiamento do evento. A Gamescom Latam 2025, uma edição de grande porte, registrou 30% mais visitantes que o ano anterior e movimentou milhões de reais em negociações comerciais, além de ter recebido mais de R$ 30 milhões em investimentos, que incluem recursos públicos federais, estaduais e municipais, através de mecanismos como a Lei Rouanet.

Apesar desse orçamento vultoso, a carta compara o tratamento dado pela Gamescom Latam com o de eventos menores, que conseguem oferecer mais apoio e estrutura aos expositores independentes. Essa disparidade levanta questionamentos sobre a alocação de recursos, especialmente quando se observa que influenciadores internacionais têm suas viagens e estadias custeadas, enquanto desenvolvedores nacionais ficam sem apoio básico.

A Gamescom Latam é um evento da Omelete Company, gigante do entretenimento que também organiza eventos como a CCXP e o Anime Friends. Este contexto torna ainda mais evidente a perplexidade dos desenvolvedores em relação às condições oferecidas, uma vez que a empresa possui expertise e capacidade para gerir grandes eventos com excelência. Além disso, a Omelete Company é reconhecida por ser uma potência econômica, desvelando que a falta de auxílio aos indies pode estar mais relacionado a avareza do evento do que com outros fatores

A comunidade de desenvolvedores aguarda um posicionamento da Gamescom Latam, esperando que a empresa reconheça a importância dos jogos independentes brasileiros e implemente as mudanças necessárias para garantir um ambiente mais justo e valorizado para os criadores nacionais.

Para acessar a carta aberta e assiná-la, clique aqui.