Por Chico Queiroz* especial para o GameReporter
Jeremiah Alexander abriu sua primeira empresa, sem qualquer capital, contatos ou experiência, após sair da universidade em 2006. De lá para cá, sua empresa – Ideonic – se tornou premiada e respeitada internacionalmente, utilizando videogames e novas mídias para criar e desenvolver soluções para ensino e mudança social.
Jeremiah, que realiza consultoria, escreve, arquiteta, codifica e participa de workshops, foi trazido ao Brasil pelo British Council para o seminário Futuro em Jogo, no MIS em São Paulo. Entrevistamos Jeremiah para saber um pouco mais de suas idéias a respeito do uso de videogames e novas mídias.
GameReporter – A Ideonic aplica Game Design a questões sérias como educação e mudanças sociais. Na sua opinião, o que faz dos games uma boa plataforma para este tipo de aplicação? Em outras palavras, quais são os pontos fortes do game design quando aplicados a estas causas?
Jeremiah Alexander – Os melhores games combinam jogos e estórias. Estes dois componentes, não por coincidência, são as formas de aprendizado mais eficientes que existem. O jogo é nossa primeira forma de aprendizado. Quando crianças, observamos as habilidades e ações de nossos pais, familiares e outras pessoas. Depois, criamos brincadeiras sobre elas, geralmente num contexto fictício, onde temos chance de desenvolver essas habilidades num ambiente onde é permitido falhar. Este é o aspecto mais importante do jogo: falhas são quase sempre permitidas. Podemos aprender com elas, repetir e continuar o processo até chegarmos ao nível de domínio desejado. Jogar é a maneira perfeita de se aprender e desenvolver habilidades.
Em quase todas as culturas, estórias foram contadas como um forma de se espalhar conhecimento. Elas podem ter começado realistas mas, através dos tempos, se tornam místicas, fantásticas e inesquecíveis. É este aspecto inesquecível das estórias que as fazem uma das melhores formas de transferir conhecimento. Ainda vemos isso hoje em dia, quando pais contam a seus filhos estórias mágicas com uma moral, uma lição a ser aprendida. Da mesma maneira, muitos dos grandes líderes espirituais usaram a narração de estórias para espalhar suas mensagens.
Quando você combina jogos e estórias, como fazem os games, algo especial acontece. Se torna possível adicionar um terceiro ingrediente ao aprendizado. Este ingrediente são os sentimentos de co-autoria e empatia. De repente, você não apenas escuta a estória – você está na estória e precisa usar suas habilidades para progredir e seu conhecimento para tomar decisões. Você começa a aprender da mesma maneira que o faria na vida real.
GR – Você poderia nos dar exemplos?
JA – Jogos sérios e educacionais melhoram cada vez mais. Recentemente pesquisamos jogos e narrativas transmidiáticos como forma de engajar aprendizes mais profundamente e por mais tempo. Desenvolvemos um jogo transmidiático para um cinema histórico. O jogo será oficialmente lançado ainda este ano, e alia jogos para web e celular junto a elementos fílmicos. Achamos que esta será uma grande tendência. No entanto, não é necessário se voltar para jogos educacionais para constatar a eficiência dos jogos como ferramenta de aprendizado. Pegue um jogo popular como Call of Duty, encontre um jogador dedicado e o pergunte sobre procedimentos militares e artilharia. Eu garanto que você se surpreenderá com seu nível de conhecimento. Jogos já ensinam habilidades e conhecimento às pessoas. Nós só precisamos ser mais seletivos quanto ao que queremos ensinar.
GR – Durante os primeiros anos da indústria de jogos, era comum vermos equipes de desenvolvimento bastante reduzidas — apenas duas ou três pessoas — produzindo alguns dos produtos mais inovadores e empolgantes da época. É este o espírito da sua empresa, Ideonic? Você acha que há novas oportunidades para organizações como esta, no momento?
JA – Certamente! Começamos em uma incubadora para companhias digitais chamada DigitalCity. Todas as companhias que lá estavam eram equipes jovens e reduzidas tentando realizar idéias de jogos inovadores. Desde então, o número de companhias e grupos fazendo isto continua subindo. O mercado, entretanto, ainda é muito difícil para novas companhias, pois elas devem fazer não apenas jogos excelentes, mas construír novos modelos de negócios e métodos de comercializar seus jogos, o que é uma grande demanda para um equipe pequena. É difícil, mas ótimo para o setor, já que companhias grandes lutam tanto quanto as pequenas para inovar. É preciso que novas empresas surjam e ajudem a indústria a seguir adiante.
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* Chico Queiroz é professor do curso de graduação em Design da PUC-Rio, onde leciona Modelagem Virtual e Computação Gráfica e Tecnologia para Jogos, além de trabalhar como designer digital no laboratório Tecgraf, na mesma universidade.
matéria muito legal, algo bacana que gostaria de complementar são os jogos que ensinam uma habilidade ao jogador, como o recente Rocksmith =)
É possível aprender com games?
Sim, e provavelmente você ja deve ter aprendido muito com jogos na sua infância, como diz o professor Chico Queiroz e o escritor Johan Huizinga, no livro Homo Lundens, base para quem estuda design de jogos.
Oi Felipe Zappia, eu concordo. Só fiz a pergunta para provocar o interesse dos meus amigos no facebook. Achei que, ao escrever aqui, geraria um post no meu mural. Mas não sei se deu certo rsrsrs.
hehehe tranquilo =D agora o pessoal pode ir atraz das fontes de pesquissa do professor =) Valeu @Fernando Telles