A volta de Renato Degiovani

Renato Degiovani, especial para o GameReporter

Voltei!

Depois de um longo e tenebroso inverno…

Na verdade não foi tenebroso e nem mesmo inverno, mas uma espécie de retiro espiritual criativo gamístico, ao qual este “velho” game designer se impôs. Afinal, 26 anos de labuta na arte e ofício de fazer jogos é muito até para os mais apaixonados pela dita arte.

Aproveitei para visitar uns parentes em Marte (sim, você leu direito: Marte o planeta, onde a comunicação com a Terra é complicada e demorada). Então, assim que a nave pousou de volta à nossa amada pátria, bem a tempo de assistir ao vexame da copa, fui correndo ver como as coisas andavam por aqui, na Terra de Vera Cruz.

Primeiro susto: como assim? Está sendo lançado o Taikodom? Mas esse era o lançamento lá em 2006, quando comprei o bilhete de ida para Marte. Nenhum outro jogo nacional nas paradas? Nenhum grande sucesso brasileiro digno de nota? Cade o concurso anual de jogos do Minc? Ainda estão se preparando para a festa de lançamento dos vencedores de 2006? Cadê a Abragames? O que aconteceu por aqui nos últimos 4 anos?

Procuro aqui, procuro alí e só o que encontro é a notícia do lançamento do Starcraft 2, em versão inhambiquara e no embalo da inauguração de um escritório por essas bandas, de uma grande produtora americana. Obviamente para traduzir e “localizar” seus jogos e dificilmente para produzir jogos daqui. Cadê o clone brasileiro do Starcraft, que inaugurou na Terra de Santa Cruz toda uma era de esperança nas grandes produções nacionais e que entrou para a história dos jogos brasileiros pela porta da frente? Cadê aquele outro MMORPG que ia revolucionar tudo? Cadê…

Ok, isso já era de se esperar e não vejo nisso nenhuma grande novidade. Interessante seria se o oposto tivesse acontecido aqui, na Terra de Souza Cruz.

Mas vamos lá, seguindo em frente, que atrás vem gente.

Velhos amigos e cri-criticos das listas, fóruns e blogs, que sempre me desceram o sarrafo, devem estar ainda na ativa. E vou logo pro fódum dos fóduns: aquele que veladamente me expulsou aos berros de “mau caráter ganancioso” justamente por cometer o supra crime e pecado mortal de querer “cobrar algum dindin” por meu trabalho, minhas criações e meus jogos, contrariando o espírito nobre da internet, onde tudo deve ser grátis e sem direito a direitos.

Homessa, ao adentrar o dito cujo a primeira coisa que leio é um manifesto em prol da criação de um espaço indie, para produção e comercialização de jogos feitos pelo pessoal que frequenta o local. Justamente o movimento indie, aquele que mais me taxou de assassino dos ideais nativos.

Não posso crer que é só isso que anda acontecendo por essas bandas. Devem existir novidades, que eu não fui capaz de perceber, até mesmo por estar desacostumado com as modernidades da rede de todas as mães. Mas que parece tudo de pernas pro ar, isso parece mesmo.

Bem, bem, bem. Estou de volta e pronto para mais 26 anos de atuação no reino encantado da produção nacional de jogos para computador. Novidades? Apenas uma: um experimento na área de criação conjunta de adventures (carinhosamente apelidado de Zeus), em forma de comunidade onde a participação/interação é o foco central. E totalmente “di grátis”, como manda a moderna lei na internet. Ou será que perdi esse bonde também?

Seja como for, pra quem ainda se interessar pelo assunto, o bat endereço é www.tilt.net/zeus.

Em tempo: um grande amigo e outro militante da arte está inaugurando um workshop sobre criação de jogos. Trata-se do Divino C.R. Leitão, que é de longe um dos caras mais criativos na área de inventar coisas legais para computador. Certamente foi o primeiro game designer a ter jogos comercializados por aqui, como manda o figurino. O endereço é www.levoai.com.br/workshop.

Autor: Dolemes

David de Oliveira Lemes | @dolemes | Editor do GameReporter e do GameOZ. Professor da PUC-SP e consultor na área de educação e tecnologia.

19 comentários em “A volta de Renato Degiovani”

  1. "Nenhum outro jogo nacional nas paradas?"
    Quem ta o Freekscape:Escape from hell? Primeira IP nacional? Primeiro jogo Brasileiro lançado para PSP e PS3?

    Acho que sua ida a marte te fez perder algumas coisas que aconteceram por aqui….

    1. OK, primeiro jogo na PSN. Mas primeira IP nacional, não. Convenhamos que o conceito de IP é diferente de "jogo pra PSN". Mas é bom jogo mesmo, concordo.

      Degiovani é sempre engraçado. Gosto dos textos dele mais ainda que dos jogos.

      Seja bem vindo, Renatão.

  2. Realmente, estamos andando lentamente. Desde 2006 pouco jogo lançou, mas muita coisa aconteceu. A indústria hoje já permite que, nós, zeros à esquerda, apareçamos por aí. Que tal jogos pra iPhone de Brasileiros? Estão saindo alguns agora do forno… Karate Monkey… Lumaki… The Gravedigger [thegravediggergame.com]… Shaolin Training…

    1. Aparecer é a palavra chave aqui. Aliás, sempre foi. Porém, contudo, todavia e entretanto… fui conferir a dica e encontrei sobre a produtora Kidguru (correto)? Uma empresa cujo "main focus is the international entertainment market…". Ou seja, agora a gente tem que procurar pelos jogos estrangeiros, para achar algum que seja brasileiro. Parafrazeando César, ao jogo brasileiro não basta ser brasileiro; ele tem que parecer um jogo brasileiro.

  3. ALiás de onde vem o Sr. Renato? Da lua? 26 anos fazendo o quê? Cortando mandioca?
    Briga no forum de onde por causa do quê?
    hãn, hein?
    ALiás, por que eu estou lendo este post mesmo?

  4. IP = propriedade intelectual.

    É quando você lança um jogo, com publisher e retêm os direitos dele.
    Ok, Taikodom é IP? sim, mas é self-publishing.

    Falei errado, deveria ter falado "primeira IP pra console".
    Nisso, estou certo.

    E teve outras coisas também nestes quatro anos… Muitos jogos pra iphone, um jogo da tectoy digital pra NDS… Como assim não teve nada?

    Tem que se informar mais…

    1. Entendi: então IP é quando o camarada faz um jogo, uma empresa distribui, mas ele ainda detem os direitos e recebe os royalties, inclusive com as devidas deduções no imposto de renda brasileiro, correto? Ué, já era assim em 1983, quando foi comercializado o primeiro jogo brasileiro, feito por brasileiro, para o mercado brasileiro e comercializado por brasileiros. Aos poucos eu vou aprendendo. É só ter paciência com esse velhinho aqui.

      1. Como eu disse: "primeira IP pra console".
        Esse jogo brasileiro saiu pra console? Acho que não.

        Outras pessoas também fazem coisas interessantes, não é só você =)

  5. Ok, googlei.

    Puxa vida, IPs ou não, acho ótimo crititar o mercado brasileiro, não para desmerecer ninguém, mas aquele concurso do Minc é uma caixa preta total.

    1. Bingo An. O grande problema é que as pessoas se acostumaram tanto a ler 140 chrs que nem se dão ao trabalho de ligar o cérebro na tomada. Ai transpiram besteiras por todos os poros. A crítica que fiz que está relacionada ao fato de que a produção nacional de hoje, por melhor que seja, ainda padece da divulgação necessária, para que se torne consistente. Já era assim no final dos anos 80, no início dos 90, no meio dos 90, no final, nos 2000, etc, etc, etc… Ou seja, o problema não é gente fazendo jogos por aqui, nem a qualidade desta produção mas é o resto do pais e do mundo ficar sabendo disso.

  6. Bem, não tenho uma experiência extensa, mas gostaria muito de ver isso acontecer através do Zeebo. Eu mal faço idéia de como o brasileiro compra um videogame, mas o aparelho da tectoy está bem em conta.

    1. O comentário geral nas listas de gamedev é de que o Zeebo está fazendo agua por todos os lados. A idéia foi boa, mas estratégia da tectoy foi desastrosa e até as comunidades que se formaram para falar bem dele estão criticando o produto. Não é a primeira vez que isso acontece por aqui e lastimavelmente não deve ser a ultima. Aparentemente nós brasileiros temos o péssimo hábito de não aprender com os erros passados. É a cultura do primeiro, pois sempre que uma coisa é dada como "primeiro isso, primeiro aquilo" pode-se fingir que nada aconteceu antes. Inclusive os erros.

  7. Seu texto é indevidamente unilateral, Renato. É engraçado como um cara que faz questão de contar nos dedos seus anos de experiência comete a simples porém incabível gafe de considerar apenas um lado da moeda. Quer fazer uma crítica à divulgação dos produtos? Ao foco? Então porque cutucar apenas desenvolvedores? E o mercado? E a academia? E o governo? E o incentivo? E o simples fato de estarmos no Brasil, levantar todas aquelas pegajosas questões de cultura, de pirataria e impostos de importação? Nada disso influencia? Bonito. Bonito. Vinte e seis anos.

    Tão maléfico quanto se adaptar a uma cultura de 140 caracteres, é querer escrever alguns parágrafos sobre uma REALIDADE, algo que nem acompanhando esteve – sob desculpa hipócrita de "sorry, minha capacidade de atualização é falha", vomitando humor elitista – pra disfarçar uma evidente birra, a qual está aparentemente distante de sanar.

    Mas o engraçado mesmo (antes era só a força da expressão pra disfarçar a contestação) é essa filosofia patriota. É desnecessária! Sabia que o Japão já faz produtos voltados pra Coréia e pros Sazunidos? E que terceirizam o jogo todo para desenvolvedoras européias? Acha que é à toa que a Coréia só produz localmente? Qual o problema de brasileiros venderem para fora, se é lá onde existe um mercado confiável? Acha mesmo que num país onde se você joga mais que FIFA ou Farmville, é visto como "aberração" da sociedade, vai rolar uma cultura gamer?

    Olhando assim, só posso concluir que a falta de consideração com os outros aspectos que permeiam o desenvolvimento de jogos no Brasil explica o tal pensamento verde-e-amarelo.

    1. Epa, opa… Onde foi que decretaram a lei que diz: o Renato tem que saber tudo, falar tudo e não pode ter uma simples opinião pessoal, ainda que errada, equivocada, elitista e preconceituosa? Como assim eu tenho que considerar, num pequeno texto, todos os aspectos de uma produção? Como assim sou contra produzir para fora? Onde foi que eu disse que a culpa é dos produtores? Justo dos produtores? Pera lá, birra infantil é essa que ainda assola o mercado de games, e que insiste em querer que todos pensem exatamente da mesma forma. Birra é essa insistência em não aceitar a dura realidade das coisas.
      Em tempo: acha mesmo que eu não acompanhei de perto o que andou acontecendo nos ultimos anos, em termos de produção nacional de jogos de computador? Abstive-me, isso sim, de participar de discussões (como essa alias) com pessoas que nem sequer me dão o direito de pensar como eu quiser e ao invés de contrapor argumentos ou mesmo questões, saem a disparar críticas que não tem relevância alguma. Isso é que torrou a minha paciência e me fez ficar 4 anos longe das listas, dos blogs e da imprensa de um modo geral.

      1. Não aposte na inocência alheia, Renato. Não dá pra desconsiderar o fato de você ter escrito isso aqui no GR, não é mais apenas uma opinião pessoal, de longe humilde. É pretensão. E se não sabe lidar com todos os aspectos que envolvem a questão, simplesmente não publique. Melhor do que poluir a mídia com uma opinião inconsistente e dispersa.

        Algumas citações que acredito responderem os outros questionamentos:
        "Ok, isso já era de se esperar e não vejo nisso nenhuma grande novidade. Interessante seria se o oposto tivesse acontecido aqui, na Terra de Souza Cruz." (esse talvez tenha que dar uma lida nos parágrafos anteriores ;) )
        "Ou seja, agora a gente tem que procurar pelos jogos estrangeiros, para achar algum que seja brasileiro. […] ao jogo brasileiro não basta ser brasileiro; ele tem que parecer um jogo brasileiro."
        "Ué, já era assim em 1983, quando foi comercializado o primeiro jogo brasileiro, feito por brasileiro, para o mercado brasileiro e comercializado por brasileiros."

        Entrelinhas à parte, sobre a última pergunta: sim, acho sim. Mas nada como ter paciência com o velhinho pra ele pegar as coisas.

  8. Pode chutar o quanto quiser o autor, mas ainda não apresentou nenhuma contestação quanto ao que expus no meu texto: onde estão as novidades produzidas no mercado brasileiro? Há alguma razão explícita para não debatê-las ou é só ignorância mesmo? E tem mais, um sujeito que escreve "levantar todas aquelas pegajosas questões de cultura" deve ter o maior cuidado quando usar a palavra "pretencioso". Até porque, pretencioso ao extremo eu sempre fui, desde criancinha. E no mais, nem a minha pessoa nem o meu carater, ou mesmo minha capacidade (ou falta dela) em escrever é importante; o que importa é o fato de que a produção nacional, nunca antes nesse pais, esteve tão pouco à mostra. Este é o ponto que os leitores do GR deveriam debater e não a minha capacidade de poluir a mídia (aliás, adorei essa: RD, o poluidor da mídia).

    Em tempo: eu disse "À MOSTRA" e isso não é juizo de valor, mas apenas uma constatação. Entendeu ou preciso explicar melhor?

    1. Como dito, terei paciência de esperá-lo descobrir esses jogos """""À MOSTRA""""" por conta própria, seja lá o que isso significa pra você. Já é bem grandinho pra fazer isso sozinho. Essas informações chegam até nós sem o menor esforço. Dizer que nunca esteve tão pouco à mostra deve ter sido a maior besteira que saiu dos seus dedos até então.

      Estranho dizer que o que importa é a produção nacional e não o autor, quando a publicação INTEIRA gira ao redor do seu ego. Até o título constata: "A volta de Renato Degiovani". Só faltaram os tambores rufarem.

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