Top 10: Games que foram longe demais

Os desenvolvedores de jogos não só podem, como devem chamar as atenções do público se quiser receber algum destaque em meio aos inúmeros lançamentos que surgem todas as semanas. Entretanto há alguns jogos que chamaram as atenções de maneira errada ao explorar conceitos pouco ortodoxos. Alguns desses projetos não apenas acarretaram na ira geral como em banimentos em diversos países e até processos judiciais.

Criar um game polêmico não é necessariamente o problema, já que títulos como GTA, Bully e Dead or Alive conquistaram sucesso e aclamação de crítica e público. O problema são os jogos que cruzaram a fronteira do bom senso e foram longe demais. Estamos falando de games que exploram temas e ideias ruins como estupro, xenofobia e assassinato de inocentes.

Confira abaixo 10 games que foram longe demais:

Active Shooter

Este jogo é bastante recente e já está dando o que falar, tanto que a Steam baniu o game de seu catálogo. O título simula com riqueza de detalhes um ataque a tiros em uma escola americana. Você poderia escolher entre ser um atirador ou um policial atendendo ao chamado de um atentado.

Nem precisa dizer o quanto o tema é sensível para os americanos e quanto as pessoas ficaram insatisfeitas com o projeto. Uma petição foi elaborada e assinada por mais de 100 mil pessoas exigindo que a Steam não permitisse o lançamento na plataforma (agendado para o dia 6 de junho). O projeto é de um desenvolvedor chamado Ata Berdiyev, que já chegou a ser banido da Steam anteriormente por quebrar normas da loja.

Postal

Lançado em 1997 pela Running with Scissors, este game coloca o jogador na pele de um esquizofrênico que acredita que a Força Aérea Americana está liberando uma espécie de gás venenoso pela cidade. Em seus delírios, ele acredita ser imune ao gás e a única pessoa capaz de deter os militares. Seguindo ordens em sua cabeça, o protagonista começa a matar qualquer pessoa que esteja em seu caminho, sejam policiais, militares e até mesmo civis. Sua meta é chegar até uma base do exército para detonar uma bomba atômica.

Postal acabou sendo banido em diversos países do mundo, incluindo o Brasil, graças a sua violência gratuita e o tema tão pesado. Em 2003 a produtora chegou a lançar uma sequência, que também foi banida em diversos países já que apresentava cenas de desmembramento e assassinatos brutais a todo o momento. Curiosidade: o título é uma analogia ao termo “going postal”, que remete ao ano de 1986, data em que o funcionário dos correios americano Patrick Sherrill matou 15 pessoas, incluindo colegas de trabalho e policiais.

KZ Manager

Jogos de administração geralmente tem um viés educativo. Jogos como Theme Park, Football Manager e Sim City ensinam os jogadores conceitos sobre gerenciamento de recursos naturais e investimento. A história é bem mais sórdida com KZ Manager, pois aqui você deve administrar nada menos que um campo de concentração nazista. Os “recursos naturais” são prisioneiros, gás venenoso, dinheiro e armas para as tropas.

Para manter a ordem o jogador deve coibir prisioneiros amotinados promovendo execuções às centenas. O único fator que pode atrapalhar o jogador é a opinião pública, ou seja, o jogador deve manter a produção em alta. Literalmente aqui os fins justificam os meios. Não precisa dizer que o jogo foi sumariamente proibido na Alemanha e em vários países do mundo.

Hatred

 A Destructive Creations tinha como objetivo chocar a audiência ao criar Hatred, um shooter isométrico cujo único objetivo é criar o caos. Aqui o jogador encarna o papel de um homem que odeia a humanidade e decide morrer naquele dia, mas antes quer levar o máximo de pessoas consigo. Para isso, ele sai com o maior número de armas e munição possível.

Quanto mais pessoas o jogador conseguir matar antes de ser pego, melhor. Não há qualquer razão aparente para os assassinatos, é violência gratuita mesmo. Não por acaso a Valve chegou a retirar o jogo da Steam, mas devido a críticas quanto a política da empresa, o game voltou a ser comercializado na plataforma.

Carmageddon

Este é bastante conhecido entre os jogadores dos anos 90. Inspirado em um filme de Sylvester Stalone, aqui temos um jogo cujo objetivo é atropelar e matar pessoas. Quanto maior a carnificina, melhor. Para ajudar o jogador a perpetrar um banho de sangue maior é possível fazer algumas melhorias nos veículos, como incluir lâminas e armas de fogo automáticas.

No Brasil houve banimento completo do jogo, ao passo em que em outros países a Stainless Games, produtora do título, deu uma repaginada geral para poder comercializá-lo. Entre as diversas mudanças estão a substituição de pedestres por robôs e zumbis e uma singela alteração na paleta de cores do sangue. Na época que o game estourou, muitos veículos de imprensa o acusaram de incentivar a violência dos jovens.

Ethnic Cleasing

Imagine um game tão pesado que os próprios jogadores evitem falar sobre ele? Este é o caso de Ethnic Cleasing, um jogo que te coloca no papel de um jovem da Ku Klux Klan ou do movimento Skinhead. O game é um FPS repleto de mensagens de ódio contra judeus, afrodescendentes e latinos. Seu objetivo é (conforme o título sugere) fazer uma limpeza étnica. Sim, há bastante violência gore e assassinatos ao longo da campanha. Para piorar, os alvos são indivíduos extremamente estereotipados.

Diferente dos outros jogos desta lista, Ethnic Cleasing não apenas foi banido, mas seus criadores (The National Alliance) também foram processados. Uma sequência chegou a ser produzida, mas felizmente foi abolida das lojas online. Mais tarde descobriu-se que seus criadores eram neonazistas de carteirinha e a história envolveu mandados de prisão.

Muslim Massacre

Outro jogo que promove a xenofobia de maneira premeditada é Muslim Massacre, um jogo do gênero shoot ‘em up cujo objetivo é exterminar muçulmanos. O game foi lançado em 2008, no auge da guerra contra o terror, promovida por George W. Bush. Você encarna o papel de um guerrilheiro americano que atira em qualquer islamita que aparecer no caminho. Apesar do design simplista, há bastante sangue na campanha.

Muitos islamitas se sentiram ofendidos com o título, que não poupou nem mesmo a imagem de Allah, o deus do Islã. Tal como outros títulos desta lista, Muslim Massacre acabou banido de vários países do mundo.

RapeLay

Em 2006 a Illusion Soft fez uma brincadeira de extremo mal gosto ao lançar RapeLay, um título em que o objetivo é perseguir e estuprar mulheres. Sim, você não leu errado: você deve estuprar mulheres. Quase toda a ação ocorre dentro das estações de trem e metrô, exatamente como ocorre na vida real. Ao longo da jogatina você pode passar a mão nas mulheres, levantar suas saias, persegui-las e por fim estuprá-las.

Para piorar a situação, o game é bastante gráfico, mostrando o constrangimento das mulheres. Em alguns momentos podem-se ver as garotas chorando e se machucando. A história do jogo é tão terrível quanto o game em si: você é um pai de família que não vê problema algum em promover incesto e ameaçar de morte suas duas filhas. O choque foi tão grande no período de lançamento que o game virou notícia nos principais jornais do mundo. Praticamente o mundo todo baniu esta brincadeira sem graça.

Baby Shake

Este aplicativo para celulares foi o responsável por mostrar que o processo de aprovação para entrar na loja da Google era extremamente falho. Exclusivo para celulares, o game coloca o jogador como cuidador de um bebê que chora repetidamente. Seu objetivo é fazê-lo parar de chorar, entretanto a tarefa não é das mais fáceis.

Logo, ao invés de ninar a criança, o jogador deve sacudir a criança com força excessiva até que os olhos do bebê sejam substituídos por “X”. Nos mangás isso significa que o bebê está morto. Sim, o objetivo aqui é matar bebês. A desenvolvedora do game ainda foi sádica na hora de descrever o game na Google Store: “quanto tempo você aguenta o choro dele antes de calá-lo?”. Devido às inúmeras reclamações o App foi removido da loja.

Dog Wars

Este game segue um estilo parecido com Mafia Wars, porém os jogadores têm à sua disposição cachorros. Sim, o objetivo é fazer os cães lutar em rinhas. Para vencer, você deve treinar os animais, alimentá-los e dar a eles esteroides até ficarem fortes e sanguinários.

Após diversas petições e mobilização do PETA, o jogo acabou saindo do ar na Google Play. A produtora do jogo (Kagegames), tentou se defender alegando que o jogo não incentivava rinhas de cães, mas um mero aplicativo de instrução de como tornar um cão obediente e treinado. As desculpas não colaram e os desenvolvedores sofreram diversas ameaças de morte pela brincadeira nonsense.

Bonus: Super Columbine Massacre RPG!

Super Columbine Massacre RPG! foi lançado em 2005 para horror das famílias das vítimas do massacre de Columbine. O jogo é do gênero RPG com um design inspirado nos clássicos da era 16 bits, de modo que a violência não é tão grande. Entretanto os minutos iniciais já mostram o quanto o criador do jogo, Danny Ledonne, é uma pessoa sádica, já que o game reconta todo o dia do massacre.

A reação foi extremamente negativa, porém houve quem defendesse o lançamento como uma forma de expressão válida de arte.Seja como for, o game foi o primeiro a ser banido do Slamdance Festival e se tornou um símbolo entre jogos polêmicos.

Novo livro de Salah Khaled analisa a relação entre os videogames e a violência

Estados Unidos, 1999. Eric Harris e Dylan Klebold entram nas dependências da Escola Columbine armados até os dentes. Resultado: doze pessoas são mortas a sangue frio. Os dois jovens assassinos cometem suicídio e uma pergunta reverbera no ar: porquê? Quase vinte anos se passaram desde o ato de violência em Columbine e muitas teorias foram formuladas de o que levou esses jovens a cometer tal atrocidade.

A polícia pesquisou a história dos assassinos e descobriu um histórico de sofrimento de bullying, sociopatia e um vício incontrolável em Doom. A arapulca estava armada. Outros incidentes ainda nos Estados Unidos de jovens perturbados e suas armas letais apontaram o dedo acusador para qual o mal dos jovens americanos.

Tudo era culpa dos videogames e sua violência desregrada. A partir daí se viu uma caça às bruxas: Mortal Kombat foi censurado em alguns países, GTA foi banido de algumas lojas, o site Doomworld teve de se defender através de editorial e uma série de entrevistas.

Pressionado pelos país, o Congresso Americano teve de regular os jogos através de faixa etária. Mas o estrago já estava feito: nunca mais os videogames seriam vistos com bons olhos pela sociedade geral. Até mesmo nos dias atuais é possível ver matérias na televisão e em jornais relacionando os videogames com comportamentos erráticos.

Essa briga entre defensores dos jogos eletrônicos e a mídia já rendeu muitos debates. Se você quer entender mais desse assunto de maneira profissional, a dica é o livro “Videogame e violência”, do professor professor Salah H. Khaled Jr. A obra busca responder até que ponto a relação entre jogos e violência é verdadeira. A leitura é obrigatória para quem quer entender se os jogos são fator determinante para a explosão de ódio generalizado entre jogadores.

O professor Salah H. Khaled Jr. tem todas as credenciais necessárias para analisar o tema, já que ele é especialista em criminologia, em História do Brasil e gamer desde os anos 1980. A obra é publicada pelo grupo Record e chega ao mercado em maio pelo preço de R$ 59,90. Segundo o professor Salah, não existe uma relação direta entre videogames e violência gratuita.

O jornal The Sun aponta Fortnite como criador de jovens desordeiros

“Não há nenhuma evidência concreta de que jogos eletrônicos provocam violência, ou seja, de que existe uma relação de causa e efeito entre videogame e violência. A suposta conexão entre games e violência não é mais que um discurso produzido pela imprensa, recepcionado por políticos e grupos de pressão e, de certo modo, ‘certificado como verdadeiro’ por alguns pesquisadores, cujo resultado conduz à criminalização cultural dos games, e também dos criadores e dos jogadores. Trata-se de um complexo processo de difusão de pânico moral por reacionários culturais”, diz o autor na introdução do livro.

Para defender sua tese, Salah faz um levantamento histórico da demonização dos videogames – algo que se confunde com a própria história dos jogos –, começando ainda nas “cruzadas morais” contra as histórias em quadrinhos e o rock, até o desenvolvimento dos primeiros games. Ele analisa ainda alguns jogos específicos e seus impactos, e destrincha casos em que a polêmica chegou ao auge, como na tragédia de Columbine, nos EUA, e no atentado dentro de um cinema de shopping , em São Paulo.

No texto, ele explora os casos tanto pela perspectiva judicial quanto pela das pesquisas científicas, da cobertura da imprensa e da atuação de políticos. Salah reúne uma bibliografia abrangente e mostra que muitas pesquisas apresentam falhas metodológicas e não são capazes de apontar com segurança uma relação causal entre games e agressão ou perda de sensibilidade.

Os jogos e os próprios desenvolvedores também não são poupados: o autor fala de casos em que as próprias empresas produtoras de games disseminam o pânico em busca de publicidade, e examina os jogos que difundem discursos de ódio em suas tramas.

O autor destaca que não são grandes séries comerciais, mas sim um universo muito restrito de games, como RapeLay, Ethnic Cleansing e V-Tech Rampage, que, inclusive, são duramente criticados pela imprensa especializada.


TRECHO:

“A tragédia de Columbine consolidou o pânico moral relativo aos games no imaginário popular e inaugurou um novo front na guerra (pro)movida pelos empreendedores morais: o judicial. Esse fenômeno certamente merece atenção especial, já que o campo jurídico é por definição um dos privilegiados para a difusão do processo de criminalização cultural.

Mas não se trata apenas de criminalização de produtos, criadores, lojistas e consumidores. Nos processos movidos contra a indústria dos games encontraremos algumas características que certamente os diferenciam de situações análogas em outras mídias.” Você consegue mais detalhes do trabalho no site do lançamento.

 

A polêmica do BIG Festival x Desenvolvedores de Jogos: entenda o caso e a resposta da organização do evento

Criado em 2012 no Museu da Imagem e do Som (MIS), o BIG Festival se desenvolveu rapidamente de uma pequena mostra de games, para um evento de proporções e importância grandiosa. E não é por menos: foi ele o evento  pioneiro dedicado exclusivamente a jogos independentes do Brasil. Graças a ele os produtores nacionais conseguiram visibilidade e contato direto com o público como nunca antes. Claro, alguns eventos de grande porte como a BGS dedicam algum espaço para indies, mas apenas o BIG nasceu e cresceu com os pequenos produtores como foco principal.

Na última semana a comunidade de produtores nacionais e jogadores presenciaram uma polêmica envolvendo o BIG Festival. Fato este que levou até a produção do evento a escrever uma carta aberta a fim de responder os desenvolvedores. Tudo começou no último dia 18, quando um grupo de 250 desenvolvedores de jogos encaminhou uma carta aberta para o BIG. A carta continha algumas críticas e questionamentos acerca das políticas do evento.

“Viemos através desta apresentar oficialmente nossa insatisfação em relação às escolhas do Festival. Essa insatisfação não é nova e já tem sido comunicada aos organizadores por diversas vezes nos últimos anos, com pouco ou nenhum resultado. Nos preocupa e incomoda que o BIG Festival, que usa em seu nome ‘brazilian independent’, dê tão pouco espaço para nós, os tais desenvolvedores brasileiros independentes”, começava o documento.

Basicamente os desenvolvedores cobram maior transparência da organização em relação aos critérios de avaliação para chegar a ser finalista do evento. Além disso, não viram com bons olhos a participação da Bandai Namco dentro do evento julgando os games nacionais. Também foi cobrada a falta de espaço para jogos feitos por universitário, em detrimento de projetos de empresas já estabelecidas e com recursos grandiosos. Ao final do documento foram levantadas possíveis soluções para os problemas levantados.

Com a polêmica levantada e a assinatura de 250 desenvolvedores, a organização viu que as coisas poderiam evoluir rapidamente para uma situação desfavorável. A princípio o BIG tentou uma reunião com uma comitiva de desenvolvedores, porém a sugestão logo se viu inviabilizada por motivos de deslocamento e escolha dos membros da comitiva. Questionou-se o porquê a organização não responde simplesmente as reivindicações da carta ponto a ponto. Pois bem, a organização do evento ouviu a comunidade e encaminhou hoje (23) para a imprensa uma carta aberta respondendo todos os 16  pontos do documento.

O documento contém 28 páginas e pleiteia esclarecer as dúvidas levantadas. A primeira coisa é que a organização desmente veementemente o rumor de que poderia rolar uma lista negra aos desenvolvedores que assinaram a petição.

“É importante declarar que são boatos totalmente infundados quaisquer possibilidades de retaliação ou lista negra por parte do BIG a quem quer que seja signatário da carta. Não sabemos quem teve a ideia de inventar isso (de fato, vários comentários inventados e não checados circularam, inclusive pela imprensa, esse é apenas um dos mais absurdos deles). Seria totalmente absurdo gerar uma lista negra para uma carta que propõe melhorar o evento”, escreve Gustavo Steinberg, diretor executivo do BIG.
Visando melhorar a comunicação entre evento e desenvolvedores, o BIG continua sugerindo a eleição de uma comissão que represente a categoria. “Sugerimos, porém, que elejam uma comissão que possa trabalhar conosco ainda nesta edição. É difícil para o festival de se comunicar com 250 pessoas ao mesmo tempo. Nossa estrutura é BEM menor do que vocês imaginam”, diz o comunicado.

Na quarta-feira (25) será realizado um encontro entre os desenvolvedores e a direção do evento às 18h no Centro Cultural São Paulo. De acordo com o BIG o evento será transmitido online. Sobre a principal crítica do evento, a parte que fala sobre a falta de transparência e a presença de grandes empresas, o BIG se defendeu dizendo que os patrocinadores não tem influência na escolha dos jogos finalistas.

“O BIG é um evento de games que engloba diversos patrocinadores, associações, e órgãos, porém as associações e entidades não têm participação nenhuma na seleção dos jogos do festival, sendo escolhido um grupo de curadores que não tem ligação com as mesmas. Pedimos que casos específicos sejam encaminhados para que possamos apurar e responder à altura”.

Mais informações podem ser vistas no site do evento.